No decorrer da história, a surdez foi considerada de duas formas: uma patológica e uma cultural.

De acordo com todo o contexto da história de surdos, podemos dizer que por muito tempo a palavra surdo-mudo foi aceita e não era considerada pejorativa.

Quando a primeira escola de surdos foi fundada no Brasil (1857) seu nome era Instituto Nacional de Surdos-Mudos, mas atualmente é Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES). 

A partir do Congresso de Milão (1880) foi instituído o oralismo (visão patológica) como concepção de ensino que parte da ideia de que o surdo deveria ser reabilitado para adquirir a fala e era proibido de utilizar as mãos para sinalizar.

A partir da década de 1970 a educação bilíngue começa a ser discutida internacionalmente e surge a expressão deficiente auditivo para se referir às pessoas surdas, ainda com uma visão clínica, e a palavra surdo-mudo começa a cair em desuso. 

Com ao tempo o surdo foi tomando seu lugar de fala na sociedade e lutando por seus direitos, mostrando que o surdo pode falar também utilizando as mãos, ou sendo oralizado.

O termo surdo remete a participação na cultura surda e é assim que a maioria se identifica.

Surdos não são mudos. Mudos são pessoas que não falam por ausência das cordas vocais, que perderam a capacidade de falar. A palavra surdo-mudo então estaria correta ao se referir a um surdo que tem incapacidade para falar.

Os surdos são capazes de falar e quando falam são chamados de surdos oralizados. Conheço muito surdos assim, inclusive a Sueli Ramalho (surda e pertencente a uma família de surdos) fala e faz leitura labial maravilhosamente!

Vale dizer ainda que, clinicamente falando, surdo é o sujeito com surdez profunda a severa. E deficiente auditivo o sujeito de surdez leve a moderada. 

É interessante perceber que o neologismo para se referir ao surdo está atrelado ao que se pensa a respeito da surdez e do surdo.

São mudanças histórico-sociais! Atente-se:

Pessoa surda-muda – É surda e é incapaz de falar.

Pessoa muda – Ouve, mas é incapaz de falar.

Pessoa deficiente auditiva – Possui surdez leve a moderada.

Pessoa surda – sujeito surdo dentro da comunidade surda, vive a cultura surda, e possui surdez moderada a profunda.

Bibliografia:

Centro, Thiago Hofman do Bom Conselho. “Surdo-mudo e deficiente auditivo: investigação lexical de um processo de mudança.”

Gesser, Audrei. “Do patológico ao cultural na surdez: para além de um e de outro ou para uma reflexão crítica dos paradigmas.” Trabalhos em linguística aplicada 47 (2008): 223-239.